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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

ESTUDOS EM SÉRIE 01 - ORGULHO, O MAL SUPREMO (Lucas 18.9-14) - Prof. Antônio de Pádua


INTRODUÇÃO

Qual é o pior de todos os pecados? Os antigos mestres cristãos diziam que o principal pecado, o mal supremo, capaz de deixar a criatura no mais completo estado anti-Deus, é o orgulho. Há uma tradição comum entre os evangélicos brasileiros que afirmam não haver diferença entre “pecado”, “pecadinho” e “pecadão”. Mas há pecados que são piores que os outros em suas conseqüências (o que, evidentemente, não quer dizer que é permitido pecar de propósito os pecados “menos” piores). A Teologia Reformada, por exemplo, na Segunda Confissão Helvética (1562), em seu capitulo VIII, afirma: “confessamos também que os pecados não são iguais: embora surjam da mesma fonte de corrupção e incredulidade, alguns são mais graves que os outros”.


A tradição cristã, desde inicio da era medieval, fala dos setes pecados mortais, considerado perigosos o bastante para levar quem os pratica deliberada e permanentemente para longe de Deus, que é a fonte da vida. Nas palavras do Professor Robert Mounce, a “lista (dos setes pecados) representa uma tentativa de enumerar os instintos primários que tem a maior probabilidade de dar origem ao pecado”. Os antigos diziam que o orgulho é o primeiro pecado desta triste lista (os outros seis são a cobiça, a lascívia, a inveja, a glutonaria, a ira e a preguiça). 

A conhecida parábola de Jesus, narrada apenas por Lucas, é contada em um contexto que apresenta o ensino do Senhor sobre oração (Lc 18.1-8 - comparar com a seção paralela de Lc 11.1-13. na qual o assunto principal também é a oração).

Em Lucas 18.1-8, a ênfase esta na perseverança que se deve ter na oração. Já no texto que é o objeto da atenção do presente estudo, a ênfase é dupla: a condenação de uma arrogância altiva e soberba, que engana, levando quem se deixa dominar por ela a pensar que é melhor que os outros e não precisa nem de Deus: e a apreciação de uma altitude humilde, que leva a depender apenas de Deus, e não dos méritos próprios.

Este texto ilustra muito bem o aspecto ridículo do orgulho, e o resultado desastroso produzido na vida de quem se julga auto-suficiente e melhor que os outros. Nesta parábola, Jesus utiliza um de seus trocadilhos favoritos: “pois quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado” (Lc 18.14, Nova Versão Internacional). Jesus cita este mesmo trocadilho em Mateus 23.12 e em Lucas 14.11.

A idéia de Deus exaltar os humildes e derrubar os orgulhosos era conhecida, há muito tempo, pelos sábios orientais (cf. Jó 5.11 e 22.29, citada por Elifaz de Temã) e evidentemente, pelos filhos de Israel (cf.Sl 113.7; Pc 3.34; Is 57.15).

Portanto, é tema presente também em outros trechos do novo testamento (Tg 4.10; I Pedro 5.5,6). À luz de tantas referencias bíblicas, não é difícil concluir que o assunto é da mais elevada importância para a vida dos que querem seguir o senhor Jesus com fidelidade e obediência. Fazemos bem em prestar a máxima atenção a tão importância questão.


1. O QUE É O ORGULHO?

O que é orgulho? Trate-se da atitude de considerar-se superior e melhor que as outras pessoas, a ponto de desprezá-las. O orgulho é, portanto, a atitude que leva alguém a considerar-se uma pessoa acima de todas as outras.

C.S. Lewis, em Cristianismo Puro e Simples (ABU Editora), afirma: “o orgulho é essencialmente competidor; é competidor por sua própria natureza, enquanto que os outros pecados são, por assim dizer, competidores apenas por acaso. O orgulho não sente prazer em possuir algo, mais apenas em possui mais do que o próximo. Dizemos que alguém tem o orgulho de ser rico, ou de ser inteligente ou de ter boa aparência, mas não é assim. A pessoa tem o orgulho de ser mais rica, mais inteligente ou de melhor aparência do que os outros. Se todo o mundo se tornasse igualmente rico, inteligente ou de boa aparência, não haveria nada do que se orgulhar. É a comparação que nos toma orgulhosas: o prazer de estar acima dos outros. Não havendo o fator competição, o orgulho desaparece”.

Por causa do orgulho, pessoas desprezam, humilham e oprimem seus semelhantes – racismo e preconceito, por exemplo, são manifestações do orgulho. Por isso, o orgulho é um pecado tão grave e serio: sempre alguém encontrara outro que lhe seja superior em uma outra área. E, acima de tudo, e de todos, há o próprio Deus.

Citando Lewis, mais uma vez “Em Deus vamos contra algo que nos e infinitamente superior em todos os aspectos. A menos que reconheçamos a Deus como tal, e portanto, que reconhecemos a nos mesmos como uma nada em comparação a Ele, não conheceremos a Deus absolutamente. Enquanto permanecermos orgulhosos, não poderemos conhecer a Deus. Um orgulhoso está sempre olhando de cima para pessoas e coisas; e é claro, quem está olhando para baixo não pode ver o que esta acima de si mesmo”. A ruína espiritual proveniente do orgulho reside no fato do orgulhoso amar-se mais que deus a Deus e, evidentemente, mais que às outras pessoas.

Eis o grande problema do orgulho: a pessoa orgulhosa considera-se melhor que as outras pessoas. O orgulho não deixa a pessoa reconhecer que, se tem algo de bom, não é pelo seu próprio mérito, mas pela misericórdia divina. Portanto, é ridículo alguém considerar-se superior a quem quer seja. No lugar do orgulho, é preciso sentir gratidão a Deus pelas boas dádivas que ele concede.


2. O QUE NÃO É ORGULHO

È preciso distinguir alguns pontos, para que não se entenda uma questão tão importante como esta, de maneira errada. Há pessoas que não querem ser orgulhosas, mas acabam manifestando uma humildade deturpada. Eis alguns exemplos: a alegria que alguém sente ao receber um elogio não é orgulho. Jesus nos dá a impressionante promessa que Deus mesmo elogiará seus servos fiéis (Mt 25.21-23).

Quando alguém diz algo de bom ao nosso respeito, Devemos dar graças a Deus, que nos possibilitou a característica pessoal ou a realização que nos fez receber o elogio. O problema é quando uma pessoa é tão orgulhosa que nem dá valor a quem a elogiou, por considerar-se superior a tudo e a todos.

Também não é errado ter ”orgulho” de uma pessoa especial, como um pai, ou uma filha, ou por ser aluno de uma determinada escola ou funcionário de uma determinada empresa. Nestes casos, o que se sente não é exatamente “orgulho”, mas uma grande afeição e/ou admiração, pela pessoa ou instituição, ou seja, lá o que for. Esta afeição e admiração não são pecaminosas em si. Mas devemos tomar cuidado para que não amemos pessoas ou coisas mais que a Deus. Afinal “se alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs e ate sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo” ( Lc 14.26, Nova Versão Internacional).


3. VENCENDO O ORGULHO

È possível vencer o orgulho? Sim, pela graça de Deus. A humildade é o remédio de Deus contra o orgulho. O problema é que, como sabiamente adverte o Rev. John Haggai, em seu livro Seja um líder de verdade, quem é verdadeiramente humilde não pensa em sua humildade, pois a humildade não tem consciência de si mesmo.

Mesmo assim, é possível cultivar alguns princípios de vida que são úteis para a vitória sobre o orgulho. Um destes princípios é ser dependente de Deus como uma criança. O senhor Jesus disse que quem não se tornar como uma criança não entrara no reino dos céus (Mt 18.1-5). A criança não é arrogante.não se considera melhor que ninguém. Para vencemos o orgulho, imitemos as crianças.

Outro principio de vida importante para derrotar o orgulho é o serviço. Jesus, o Senhor, serviu sempre. Ele não teve problemas em fazer o que ninguém queria, e lavar os pés de seus amigos discípulos (tarefa que, naquele tempo, era destinada aos escravos). “Vós me chamais o Mestre e o senhor, dizeis bem, porque eu sou. Ora, se eu sendo o Senhor e o Mestre vos lavei os pés, também vos deveis lavar os pés uns dos outros. Por que vos dei o exemplo, para que, como eu vou fiz, façais vós também” (Jo 13.13-15).

Quem serve aos seus semelhantes desenvolve espírito de humildade.

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Este mesmo estudo está publicado no Blog do Professor Pádua

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